quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

DOIS PODERES E MEIO

CRÍTICA REFLEXIVA
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Escrevo com o mesmo prazer que analiso, mas ao dar este passo -tranquilizo a todos- já me desvencilhei há muito da pretensão de pensar ser o único com essa crítica- que não induz mas ilustra qualquer reflexão, por mais desarraigada que seja do contexto literário em si mesmo, e não no literal- como o que ensejo. Modestamente, essa concessão é uma cortesia. Há, por todo o Brasil, um debate sendo travado sobre o que os caciques políticos chamam de judicialização do Congresso Nacional. O Judiciário, por sua vez, diz haver flagrantes lacunas nas ações políticas- justificando, assim, a necessidade das suas intervenções. Na verdade, creio mesmo é haver um grande jogo de conveniências, não conluio ou compadrio, e a grita fica por conta de interesses- que invariavelmente são contrariados, por mais que se busque evitar.
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A relação política entre os poderes Executivo e Legislativo, não mais assombra qualquer analista, quando esse se vê na obrigação de reproduzir barganhas ou fisiologismo, principalmente. Isso passou a ser uma retórica de improvável abalo social. Nosso humano exercício cultural nos tem fornecido contínuo aprendizado de que os tempos sejam outros. E, para essa dinâmica, deixo a letra morta estagnada aqui, pois podem haver sentimentos que se machuquem com a frieza ou com a incredulidade proposta na vertente descrita.
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Assim, se me permitirem as ácidas mentes que evoluem rapidamente para a defesa do seu quinhão, quero expor a degradação de autoridade que vem forçosamente sofrendo a Câmara de Vereadores de Angra dos Reis, há alguns anos. Não se trata, porém, de qualquer imposição de ordem merecedora da tal intervenção judicial, mas sim do falecimento em doses homeopáticas da arte de se produzir política, dentro do respeito a independência dos poderes. O relato sombrio que empalidece no mármore das nossas convenções, ou da minha solitariamente, quer seja; não reproduz aqui clichês cotidianos de subserviência, baixa produtividade parlamentar, gastos excessivos, absoluta falta de transparência, enfim; mas de uma relação com o Executivo que, de tão amarga e indócil, extrai da própria democracia brasileira (conquistada no cerrar de punhos e sangue de homens e mulheres que tombaram pela causa) o dever de apresentar uma agenda própria e justificar em valores diversos (e nunca econômicos) a validação do direito de representação proporcional. A coisa não está somente feia, a coisa está tendendo a absoluta inoperância, capaz de sequer justificar os gastos econômicos e sociais de sua própria existência.
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Por fim, há que se ter uma boa notícia, um fiapo -ao menos- de esperança, sob pena de institucionalizarmos o óscio, a inércia. Então, senhoras e senhores que ainda respiram a fé da ressurreição, é possível que -mesmo antes do nascer do sol- essa renovação parlamentar (que inicia os seus trabalhos políticos) consiga emergir das cinzas e desfaça a necessidade da existência dos Três Poderes constituídos, visto que hoje, Angra dos Reis, capengamente se equilibra para manter os seus Dois Poderes e Meio. É uma lástima, e quisera não fosse.
04/02/09
21h45min.
adelsonpimenta@ig.com.br