sexta-feira, 17 de abril de 2009

A PF E A BÓSNIA

Fonte: REVISTA VEJA
PODCAST DO DIOGO MAINARDI
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A PF e a Bósnia

A PF está balcanizada. Quem a definiu assim pela primeira vez foi Reinaldo Azevedo. Mais um acerto dele.

Duas semanas atrás, recebi um relatório produzido pela PF sobre Victor Martins e a ANP. Por que o relatório me foi encaminhado? Simples: em minha coluna, eu já citara Victor Martins e seu Big Brother - Franklin Martins. Eu já fora até processado por esse motivo. Os agentes da PF imaginaram que eu pudesse me interessar pelo assunto. E eu me interessei. Muito.

Se a PF está balcanizada, os agentes que me mandaram o relatório sobre Victor Martins e a ANP podem ser comparados aos bósnios de Mostar. Apesar de isolados, com suas pontes bombardeadas, eles ainda tentam resistir aos Karadzic do petismo. O que eu posso garantir é o seguinte: o relatório foi produzido por uma etnia da PF e foi engavetado por outra etnia da PF, que tenta aniquilar a primeira.

Nessa guerra de PF contra PF, Protógenes Queiroz desempenhou um papel marginal: o sargento ignorante e inescrupuloso que seguiu as ordens de seus superiores e cometeu uma série de abusos, uma série de ilegalidades. Seus superiores: Paulo Lacerda e, segundo o próprio Protógenes Queiroz, Lula.

Ninguém entende direito o envolvimento de Lula nessa história. Eu tenho uma ou duas suspeitas. A Satiagraha foi montada depois que Veja publicou uma reportagem revelando que Daniel Dantas tinha uma lista de contas em paraísos fiscais que pertenceriam às maiores autoridades do governo. Entre elas, Paulo Lacerda e Lula. Qual poderia ser a meta da PF e da Abin? Descobrir que dados Daniel Dantas realmente possuía. E se esses dados se referiam a contas verdadeiras ou falsas. Quando Daniel Dantas concordou em vender a Brasil Telecom para a Andrade Gutierrez, Lula decidiu encerrar a Satiagraha. Mas a máquina da PF e da Abin, como o computador Hal, de "2001", já fugira do controle, voltando-se contra os seus criadores.

Na CPI do Grampo, Protógenes Queiroz sugeriu que os documentos da Kroll, a empresa que Daniel Dantas contratou para espionar a Telecom Italia, fossem abertos. Ninguém fará isso, porque a Kroll flagrou um monte de gente ligada ao petismo. Por esse mesmo motivo, ninguém investigou a contraespionagem da Telecom Italia, que rendeu um processo na Itália contra seus dirigentes. Nesse processo eram citados - sempre eles - Paulo Lacerda e Lula. A denúncia dos procuradores milaneses contra a Telecom Italia é também uma das maiores provas da espionagem encomendada por Daniel Dantas. Os hackers italianos introduziram um cavalo-de-tróia no computador de um agente da Kroll. Depois disso, passaram a receber automaticamente todos os seus relatórios secretos. É o que consta do processo italiano: Daniel Dantas espionou, a Telecom Italia contraespionou.

O resultado da PF balcanizada é esse: o caso da ANP foi engavetado, o caso da Kroll foi engavetado, o caso da Telecom Italia foi engavetado. Quase sempre contando com a sabotagem de picaretas remunerados para abafá-los. O caso da Telecom Italia tem até um blogueiro que, para fazer seu trabalhinho sujo, assinou um contrato de 180 mil reais por ano com a TIM, que pertence à própria Telecom Italia. Quando a guerra acabar, será preciso reconstruir a ponte de Mostar.

Áudio em MP3
17/04/09
21h39min.
adelsonpimenta@ig.com.br