quinta-feira, 1 de setembro de 2011

CONTEÚDO NACIONAL

PAUTA DO LEITOR
( Por e-mail )
Publicado também no seleto Grupo de Discussões do facebook
"Angra em Debate'
--------------------------------
As motivações para que os trabalhadores da indústria naval brasileira defendam com a alma a política implementada que preza pelo conteúdo nacional sobre a produção do setor, são diversas. Me aterei a um viés mais pragmático, no sentido de repor a verdade dos fatos -economizada numa matéria jornalística de intenção que contesto frontalmente, publicada na edição de 31/08/2011 desta imprescindível Revista Veja, sob o título: "Dinheiro ao Mar".

O navio 'João Cândido', em construção com cronograma atrasado, no Porto de Suape, em Pernambuco, é um caso atípico, uma aposta que se mostrou infeliz por parte dos compradores; no entanto, há um avassalador número de outros excelentes exemplos que servem à contradição qualificada, no que se refere a questão do ressurgimento da indústria naval brasileira, que conspiram contra o teor da matéria.

O cerne da estratégia governamental de se privilegiar, em tudo aquilo que for possível, mão de obra e fornecedores brasileiros como forma de fomentar os setores petrolífero e naval -a anunciada e publicamente debatida questão do "conteúdo nacional"- está no fato de se corrigir passivos, pelo que houve de investimento contrário, no sucateamento do setor e no fechamento das portas dos estaleiros brasileiros -e com isso, o despejo de uma multidão de trabalhadores altamente qualificados, na rua e entregues à própria sorte. Ao acreditar nesse potencial, covardemente desprezado por gestões anteriores, o Governo Federal colhe a cada novo contrato, provas de que a medida foi a mais saudavelmente acertada.

Quando a matéria insiste na tese de que, o que é nosso é pior do que aquilo que vem "de fora", quando tenta desqualificar o "conteúdo nacional", ao relatar que no caso da construção de um navio, pelo menos 65% do valor final deve ser gasto no país, e que isso seria uma regra que despreza a inteligência e o bom uso do dinheiro público, tomando por base unicamente o navio "João Cândido", a jornalista Malu Gaspar (responsável pela redação), demonstra insuperável desapreço pela multidão de outros belíssimos exemplos com o curso da política de "conteúdo nacional". Isso, salvo uma leitura mais generosa que a nossa com os fatos reais, põe a 'Veja' e toda a sua estrutura, contra todo o esforço dos trabalhadores brasileiros por esta conquista -e pela ampliação dela. 

Assim como no Japão e na Coréia do Sul, países citados pela reportagem como exemplo de eficiência, o Brasil tem exportado mão de obra qualificada, justamente pelo impressionante know-how adquirido com tantos de anos de trabalho e aprendizado constante. Parte considerável da frota brasileira foi construída pelas mãos dos brasileiros. Em Angra dos Reis, no hoje estaleiro Brasfells (que já teve outros nomes), o nosso portfólio fala por nós, com obras de magnitude que impressionam o mundo moderno. Entre as quais, posso entusiasmadamente citar a P-51, a P-52, a P-56, a P-57 e a P-61 -que está em fase de construção, e uma infinidade de navios à disposição da produção do país. Todas essas grandiosidades compõem o orgulho nacional, pois entregamos dentro dos prazos estabelecidos, em obediência as mais rigorosas certificações internacionais, com elogios que ao invés de nos envaidecer só nos tem feito compreender ainda mais o tamanho da nossa responsabilidade. 

Por fim, mesmo tendo mão de obra requisitada mundialmente, com sobras no mercado por não haver ainda postos de trabalho suficientes, acabamos de assinar um Convênio com o Governo do Estado do Rio, com o Senai, com a Firjan e com a Petrobras, através da Coordenação nacional do Promimp, para que nossa sede sindical seja sede de diversos novos cursos de qualificação profissional. A política do conteúdo nacional fez com que este mercado aquecesse internamente, e que ganhassem a indústria, o trabalhador e o país. A Presidenta Dilma nos assegurou, na entrega da P-56, que criará a navipeças (indústria de peças para o setor naval), e isso é a continuação do acerto dessa política de valorização do mercado tratado pela matéria. 

Fica nosso convite para que a revista Veja possa vir ao nosso estaleiro, conhecer nossa linha de produção, a qualidade de nossa mão de obra e compartilhar conosco desse grande sucesso que nos tem colocado no mais elevado conceito mundial -por todos aqueles que entendem e investem no setor.

Hélio Severino de Azevedo
Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Angra e Região
17h35min.         -        adelsonpimenta@ig.com.br

Nenhum comentário: