PREFEITURA E INEA - E A DONA LILI

Esta senhora da foto é a LAIR AUGUSTO DE ANDRADE, tem 65 anos de idade, é aposentada e mora em Angra há quase vinte anos, é viúva e mãe de três filhos, sendo um já falecido, trabalhou como cozinheira na Coordenadoria da Baía da Ilha Grande até 2011, quando esta foi extinta em Angra e transferida para Volta Redonda. Após essa mudança, a  Dona LILI, como é carinhosamente chamada pelos que a conhecem, foi trabalhar como faxineira no Ceav até dezembro do anos passado, 2012. Terminado o contrato, ela foi dispensada. Hoje sobrevive de sua aposentaria que corresponde a um salário mínimo. Ela faz uso de medicamentos para controle de sua saúde. Uma mulher de fibra, de gestos simples e vida dura para se manter com absoluta dignidade, e que diz que tem orgulho de ter sido faxineira por mais de uma década na casa da hoje prefeita de Angra, em quem declara ter votado com a certeza de seu coração. É filiada e militante do PT, justamente por crer nos valores defendidos pela atual prefeita, a quem ela sempre declarou amizade e fidelidade. Pois bem, isso, ao que parece, pouco importou. Ela foi tomada por este blog como uma das vítimas do terror social promovido na última sexta-feira (22) com a comunidade da Itinga, região do Bracuí, em Angra, pela Prefeitura e Inea. 

Demolições foram promovidas sem qualquer aviso prévio aos moradores, sem chance de defesa ou deslocamentos adequados, num verdadeiro cenário de guerra - com uso de tratores, palavras de ordem, reforço policial, enfim, ingredientes de uma tragédia social, mais que a urbana. Mas, por que não dizer que houve espaço para que uma emissora de tv fizesse a cobertura com certo ar de exclusividade, ou seja, uma ação espetacularizada pela e para a mídia. Não obstante, um desaforo e tanto dos órgãos públicos e seus ocupantes de cargos comissionados contra uma comunidade inteira. Não discuto a legalidade nem a necessidade do ato, que provavelmente deva ter tido respaldo judicial, mas a forma como foi providenciada a ação desses órgãos públicos. A comunicação social do ato demolitório com as pessoas que foram objeto direto e indireto do evento, segundo me informam, inexistiu. Logo, comprometendo a qualidade de todo o trabalho, causando danos irreparáveis. Não se pode chamar isso de reordenamento urbano, nem de reassentamento, nem de qualquer outra coisa senão absoluta ausência de estratégia e descaso com a ordem pública. Uma ação que talvez tenha digital da legalidade, mas criminosa no que concerne ao respeito ao ser humano, ao cidadão. Haverá desdobramentos políticos, mas minha inserção aqui é em favor de que as coisas sejam precedidas de diálogo, de ordem e decência, de planejamento e organização. 

A Dona LILI ficou na frente do trator que avançava sobre seu único patrimônio e gritava em nome de Deus para que não a deixassem no relento, para que não destruíssem seu sonho...que foi construído em mutirão por amigos - e que tem 5X5 de área construída, um quarto e um banheiro tão somente. Suas forças físicas esgotaram sua capacidade de trabalhar para continuar pagando aluguel. Ela gritou em alaridos que expressaram o louvor de sua alma e fez a defesa que pôde de seu sonho, até que outras pessoas se juntassem e lhe fizessem coro, e o algoz se retirou. Ela sonhou com seu ídolo no poder, mas quando isso enfim aconteceu, foi esse mesmo poder que tentou com um trator destruir seu sonho. 

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14h47min.       -       adelsonpimenta@ig.com.br