terça-feira, 26 de agosto de 2014

ANTECIPAR ELEIÇÃO É FRAUDAR O DISCURSO

Se há uma leitura possível sobre o cenário político de Angra, eu me arrisco a fazê-la.
O que se viu principalmente nas duas últimas eleições municipais foi um distanciamento importante do leitor com as candidaturas apresentadas. Nada que tenha tirado a legitimidade do vencedor, é bem verdade, mas trata-se de um dado que deve ser olhado com um pouco mais de atenção. Entre os candidatos da eleição de 2014 se equivocam os que tentam antecipar a de 2016. São debates distintos, abordagens próprias e interesse diferenciado. Algumas das agendas entre as esferas de poder, até dialogam entre si, mas alto lá, cada coisa a seu tempo.

Os Vereadores, Candidatos e Partidos

As pesquisas de opinião, costumeiramente feitas para consumo interno dos partidos políticos, insistem em demonstrar que há um esfriamento do eleitor com as campanhas eleitorais, certo descrédito em relação as soluções possíveis pela política e, por fim, um apagão de novas lideranças em quem confiem para dar-lhes o voto. Esse, aliás, é um retrato percebido por todo o país. 


Desta legislatura municipal, vê-se que há uma estratégia de cada partido político com o lançamento de nomes de vereadores da cidade nesta eleição de 2016. Legítima, diga-se. Há uma intenção de ocupar o espaço que se supõe vazio. 

Mas, há vida fora da casinha também. Há candidatos locais que não exercem mandato, o que demonstra que outros partidos respiram sem a ajuda de tais aparelhos. A democracia pressupõe isso, tá tudo dentro do script. A incógnita é saber qual dessas campanhas está conseguindo a atenção do eleitor.

Discute-se de tempo em tempo uma reforma política, mas não se avança para mudanças práticas. O modelo atual de escolha da representatividade política precisa ser reformulado, sem dúvida. Assim como a forma de se fazer campanha, porque, entendo eu, na medida em que os marqueteiros ganham ar de celebridades e deixam aos candidatos o papel secundário, algo há de errado. nada contra os profissionais do marketing, mas o debate de ideias e propostas tem sido deixados de lado, e o pouco espaço que ainda resta para essa acareação entre os candidatos já começa a ser manipulado.

Ontem (25), só para citar um outro exemplo, eu ouvia uma repórter da CBN-Rio entrevistando pessoas que são contratadas para cuidar de placas sobre cavaletes deixadas em locais públicos no Rio, e 30% afirmaram que não votariam no candidato para o qual trabalhavam e que sequer conheciam suas propostas; outras tantas aproveitariam esse "serviço extra" para tentar conhecê-los mais e então decidir pelo voto.

Ainda sobre Angra/RJ, vereadores querem ser deputados, é claro. Qual o problema? Nenhum. Não é necessariamente uma novidade a investida, mas é relativamente nova tantas candidaturas ao mesmo tempo. Que benefício produz para os interesses da cidade essa multiplicação de candidaturas do mesmo local? Há muita coisa para ser refletida, e respondida.

A Prefeita e o Poder

A tarefa política da prefeita de Angra/RJ, Conceição Rabha (PT), certamente é a de garantir que os investimentos sobre as obras públicas não sejam contaminados pelo calendário eleitoral. Mais que isso, ela precisa cuidar para que o interesse desse processo não interfira ou exerça influência sobre a prática de sua gestão no comando da administração municipal. É ofício do poder.

Mas, por outro lado, ela precisa também emprestar seu prestígio político, sua força à campanha, já que entre os postulantes tem gente de sua linha de frente. 

Ser prefeita é o compromisso institucional para o qual foi eleita. Mas, ser política é sua essência, e uma coisa não se dissocia da outra. Tem que haver temperança e moderação. O sucesso ou insucesso de cada um desses, jamais será depositado em sua conta, mas o sucesso de cada um desses será contabilizado por ela. É natural. 

Conceição enfrenta no comando do Governo local adversidades, algumas que que já sabia existirem porque compõem o leque das coisas, outras porque herdou e tem de lidar institucionalmente. Talvez não as conhecesse por dentro, mas respirou o ar da política desde sempre, portanto, não foi diplomada desavisadamente. Um sucessor sempre herda bônus e ônus de seu antecessor. Aliás, ao registrar sua candidatura, assumiu voluntariamente os riscos. 

Ganhou a eleição e precisa resolver as pendências, equacionar problemas, suprimir demandas e fazer as coisas acontecerem. Mudança é o que se espera, porque foi o que ela prometeu. A petista, mantém-se como uma das principais lideranças da cidade, reúne condições naturais para isso, entre as quais o fato de ser pertencer a um partido político orgânico e ser a primeira mandatária da cidade. Seu apoio é disputado, sempre. 

Isso não significa dizer que ela será simplesmente reeleita em 2016, longe disso.  O que digo é que  ela tem todas as condições que tinha outrora e agora mais, podendo, dessa forma, reverter qualquer quadro negativo que porventura haja nesse momento sobre a avaliação popular em relação ao seu governo. Ao cabo de qualquer análise, será o conjunto dos quatro anos de sua gestão que será considerado pelo eleitor - em 2016. 

Portanto, governar é seu desafio, mas eleger parceiros também. 
É do jogo.

Comparações extemporâneas


Nos discursos providenciados em alto som com a sonorização cuidadosamente colocada nos palanques de alguns candidatos locais a deputado estadual e federal, ao contrário de se ouvir resenhas de conjuntura nacional e/ou estadual, de se conhecer propostas legislativas à serem trazidas à pauta em eventual vitória de cada um , o que se tem ouvido é a busca de uma rivalização com o grupo político que está de plantão no poder, quando não fulanizações grosseiras -, habitualmente contra a pessoa da prefeita da cidade.

Quem se planeja para 2016, tenta meter uma cunha no processo já em 2014. Não sei até que ponto isso tem sido mensurado pelas coordenações de cada candidato. A análise de cenário deve ser feito por todos os lados e o tempo todo. 

Particularmente, entendo que não seja pedagógico nem produtivo o que está ocorrendo. Ora, embora tenha suas preferências, a prefeita não está no centro da disputa, nem o cargo que ela ocupa. De forma alguma está imune às críticas, convenhamos e é bem verdade, mas campanha eleitoral que não seja a municipal não deve -, ou não deveria servir de fórceps para antecipações de um pleito sobre o outro. 

Quando for o período para a eleição municipal, certamente o mote da campanha será o da comparação entre gestões, considerando que o grupo do PMDB vá disputar novamente o pleito. O PCdoB também já presidiu a Câmara Municipal; o PR teve vice-prefeito e já exerceu mandato na ALERJ. Outros partidos, caso também venham ao centro da disputa, serão avaliados pelo que já produziram ou deixaram de produzir em favor da cidade. 

Mas isso será para a eleição de 2016, por isso acuso o equívoco sobre a estratégia de se tentar antecipar esse debate para esta eleição de 2014. Cada coisa deve atender ao seu próprio tempo. Por que a pressa? 

Não é fata de assunto para se tratar sobre a competência e atribuições de um deputado, porque o que não falta é interesse sobre isso pelo eleitor, e sobre como cada candidato pensa em relação a assuntos tão perto de seus lugares de convívio; logo, creio eu, o que realmente falta é vontade de alguns candidatos, foco sobre o cargo que está em disputa. Não generalizo, falo sobre cenários.

Portanto, pressuponho que o que o eleitor busca é conhecer a aptidão de cada candidato quanto ao que se propõe a fazer caso se eleja nessas eleições de 2014. 

Não adianta fazer diferente disso, tentando antecipar uma eleição sobre a outra, porque isso seria fraudar o próprio discurso. É justamente contra essa prática velha, nociva, que o eleitor vem se opondo, resta ver o resultado das últimas eleições e o que demonstram as atuais pesquisas de opinião pública eleitoral.

Façam suas reflexões.
-
14h10min.    -   adelsonpimenta@ig.com.br   

Nenhum comentário: