terça-feira, 29 de março de 2016

PMDB CRIA FOSSO E LANÇA "PONTE"

No dia de hoje, (29/03), o Diretório do PMDB Nacional se reuniu em Brasília e decidiu por aclamação, conforme já havia sido dito por seus líderes que assim o seria, deixar de compor o Governo como base de sustentação parlamentar e compor a administração - determinando que todos os quadros da legenda deixem seus cargos. É um passo importante do partido, mas que está eivado de outros interesses e cria uma nova situação política no país.

Faço uma resenha sobre este movimento:



Nos últimos anos de mais de uma década, para o bem ou para o mal, o Governo brasileiro não é só do PT, tem sócio, é também do PMDB. Eleito e reeleito nas últimas eleições na condição de Vice-Presidente da República, o PMDB, diferente dos demais partidos, amplificou seus espaços - e participa de forma direta do Governo e seus tentáculos são todos energizados de poder. Saem agora, mas com a expectativa de manter, porque o impeachment de Dilma, caso ocorra, será a ascensão de Temer. Não tem ingênuo aí.

O partido comanda as duas Casas do Congresso Nacional, ocupa ministérios, governa importantes estados, enfim. Portanto, sua decisão traz consequências. Não entro no mérito, já que um Diretório de 119 membros legitimou essa decisão. Quando o PMDB decidiu fazer isso, optou pela ruptura, criou um fosso. Será por isso o slogan de seu documento político: "Uma ponte para o futuro"?

Estranho é que as medidas que o PMDB aponta para tirar o país do terrível momento pelo qual passa, não são sequer experimentadas primeiro nos estados onde governa. O futuro do país é o presente dos estados. Onde está essa "ponte" para o Pezão e para o Sartori, entre outros? O Estado do Rio de Janeiro faliu sob o PMDB. No Rio Grande do Sul também há problemas de natureza semelhante, sob o partido. Mas, é do Rio, especialmente, onde mais se deteriorou as finanças públicas, que se viu alguns dos principais movimentos do PMDB nos últimos dias. 

Cunha e Picciani são do Rio, Presidente da Câmara e líder nacional da legenda, respectivamente. O partido projetava (ou ainda o faz) que do resultado das olimpíadas no Rio saísse o gancho "que faltava" para chegar à presidência pelo voto direto. Agora tenta-se encurtar o caminho? O desembarque é um ato político que deve ser respeitado, mas a sociedade deve avaliar se é isso o que reclama nas ruas e quer para si. O momento é de atenção aos movimentos.

Portanto, não creio que haja um profissional qualquer de análises políticas ou sociais que possa definir o que virá pela frente. O PT é um partido igualmente grande, forte, embora sob fogo lançado por seus adversários, continua governando e politicamente se articulando. Outros partidos também conferem sustentação ao Governo Federal, e cabe perguntar: sucumbirão ante o mote peemedebista, ou buscarão os espaços deixados pela defecção para se fortalecerem? 

Política se faz também ocupando espaços vazios. O TSE cassará a chapa? O impeachment passa pela Comissão? Se passar, terá votos suficientes para frear o processo em plenário? Se tiver, como se portará o PMDB? E se for o contrário?

Ao deixar o Governo, o PMDB criou mais indagações que respostas, por exemplo, sobre qual é a do PSDB nessa história? O partido foi ao segundo turno da disputa eleitoral e agora cederá espaço para quem não se submeteu de forma direta ao crivo das urnas nessa disputa? Quando o partido fez campanha com o mote "Vamos conversar?", terá sido esse tipo de diálogo que a legenda buscava? O PSB que quase se fundiu com o Rede ficarão só resmungando pelas redes sociais ou vão exigir a legitimidade do voto das urnas para quem quer que assuma o Poder?

O debate político no Brasil ganhou forma nas ruas, mas, talvez seu efeito reverso seja justamente essas manobras que se avizinham. O eleitor, em sua maioria, considerando as pesquisas de opinião, neste momento, discutem o impeachment. A Justiça avança com investigações que não se limitam a este ou aquele ator ou partido, ao que parece, vai atingir a muitos, no processo Lava-Jato. O TSE tem em mãos denúncias que podem cassar Dilma e Temer. 

O PMDB tem que usar mais que três minutos - como foi o caso para anunciar sua ruptura com o Governo, para debater com a nação brasileira o por quê de uma porção de coisas, que vai de suas ações no Governo e fora dele, até o tchau que deu hoje sem mais delongas, sem nada a nos dizer, como nada do que está acontecendo no país tivesse qualquer participação sua. Bravatas e silêncio, neste caso, tem o mesmo efeito, mas nenhum sentido. 

O Brasil está nas ruas em busca de respostas, de mudanças e de soluções, não de jogadas políticas eivadas de manobras estranhas ao interesse público. Não há "ponte" que ligue ao "futuro" se forem ignoradas as razões pelas quais se chegou a este ponto "presente". O PMDB foi para o risco, apostando alto em sua estratégia, mas, os brasileiros não tem nada com isso e não se iludem mais, tanto que as redes sociais e as ruas são povoadas por gente que discute política independentemente de partidos. 

Lupa no caso
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19h13min.    -     adelsonpimenta@ig.com.br

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