ARTIGO parte II
criacionismo X evolucionismo
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criacionismo X evolucionismo
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19/01/09
21h05min.
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21h05min.
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Por: ROBERTO BONI CARDOSO
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Ultimato - É possível harmonizar a história bíblica da criação com a
teoria da evolução?
Douglas - Há muitas tentativas de harmonizar a história bíblica da
criação com as ciências biológicas e geológicas. Apesar de a teoria da
evolução ser muito associada a estas ciências, evidentemente não são
equivalentes. Muitos dos esforços de conciliação foram descritos no
livro de Bernard Ramm: The Christian View of Science and Scripture
(Eerdmans, 1954). É uma pena que este livro nunca tenha sido traduzido
para o português, embora uma parte dele já tenha sido publicado pela
Ediciones Certeza, em espanhol. Ramm defende o que ele chama de
criacionismo progressivo, em que ele postula que os dias de Gênesis
devem ser interpretados como eras de longa duração. Outros evangélicos
como Charles Hummell (The Galileo Affair) sugerem uma interpretação
literária do texto bíblico. Donald Daae (Bridging the Gap) faz uma
interpretação mais literal. Embora nenhuma tentativa de harmonização
seja completamente satisfatória, parece-me que há esperanças de se
alcançar bons resultados no futuro.
Lane - Se harmonização significa acomodar o relato bíblico à ciência,
eu diria que é possível harmonizar, porém, não é necessário. Por
exemplo: a Bíblia diz que a luz foi criada no primeiro dia (Gn 1.3),
mas apenas no quarto dia é que foi criado o sistema solar, incluindo o
sol e a lua (Gn 1.14-19). A ciência diz que o sol é a fonte da luz.
Quem está certo? Criacionistas dirão: a Bíblia está certa.
Naturalistas dirão: a ciência está certa. Uma interpretação cristã
tenta acomodar as duas visões, defendendo que o sol foi criado no
primeiro dia, mas o céu estava nublado. Apenas no quarto dia, ao se
dissiparem as nuvens, é que o sol foi visto. Ora, isso é um absurdo.
Para entendermos esse conflito precisamos lembrar que Gênesis não é um
tratado científico moderno. Além de possuir uma visão do cosmos
diferente do que a ciência conhece hoje, está, acima de tudo, falando
de Deus, o criador. Neste sentido, é preciso lembrar o que Apocalipse
afirma sobre o sol: "A cidade não precisa nem do sol, nem da lua, para
lhe darem claridade, pois a glória de Deus a iluminou, e o Cordeiro é
a sua lâmpada" (Ap 21.23; cf. 22.5). Gênesis está fazendo afirmação
semelhante. Deus é a fonte de luz e não o sol. Isto faz mais sentido
ainda no contexto religioso da antigüidade, em que se cria na
divindade do sol. Gênesis está dizendo que o sol não é um deus, pelo
contrário, é criatura de Deus. Mas um bom exemplo no pensamento
cristão reformado sobre como resolver este conflito é o comentário de
Calvino do texto de Gênesis 1.16. Este versículo diz que Deus fez os
dois "grandes luzeiros". Como conciliar isso com a constatação dos
astrônomos de sua época de que Saturno era bem maior do que a lua?
Calvino responde: "Moisés escreveu num estilo popular coisas que todas
as pessoas comuns, mesmo sem instrução, possuídas de bom senso, são
capazes de entender, mas os astrônomos investigam com grande esforço
aquilo que a sagacidade da mente humana pode compreender. Entretanto,
este estudo não deve ser rejeitado, nem deve esta ciência ser
condenada, pois algumas pessoas têm a audácia de rejeitar qualquer
coisa que lhe é desconhecida. Mas a astronomia não é apenas agradável,
mas também bastante útil para ser conhecida: não se pode negar que
esta arte revela a admirável sabedoria de Deus." (Calvins Commentary:
Genesis, vol. I, p. 86.)
Ultimato - Como nome próprio, Adão é mencionado em Gênesis (3.17 e 21,
4.25, 5.1-5), na genealogia de Jesus (Lc 3.23-38), nas Epístolas de
Paulo aos Romanos (5.14), aos Coríntios (1 Co 15.22 e 45) e a Timóteo
(2 Tm 2.13 e 14), na Epístola de Judas (14) e em outros livros da
Bíblia (1 Cr 1.1, Jó 31.33 e Os 6.7). Esse Adão foi o primeiro ser
humano?
Douglas - Há especulações entre evangélicos de uns cem anos atrás
sobre a possibilidade de uma raça pré-adâmica. Po sua vez, os
arqueólogos evolucionistas têm procurado uma "Lucy", que seria a mãe
da humanidade. O Novo Testamento afirma claramente que Adão é o cabeça
da humanidade, como Cristo é o cabeça da igreja. Uma boa discussão
sobre este ponto é apresentada por Derek Kidner em seu comentário
sobre Gênesis (Editoras Mundo Cristão e Vida Nova).
Lane - A Bíblia o diz que sim. Mas como Adão (palavra adam) significa
"homem, ser humano" e, como tal, ocorre em Gênesis 1.26-27 e em outros
versículos do capítulo 2, há quem diga que esse adam é nome simbólico
para a humanidade. De fato, em Gn 1.27 inclui tanto o homem como a
mulher: "à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou" (RC). Em
alguns casos, inclusive, as versões bíblicas parecem não concordar
quando se deve traduzir Adão e quando se deve traduzir homem para o
termo adam. Uma comparação entre as versões Corrigida e Atualizada em
Gênesis 2.19-23 mostra esta dificuldade. A Corrigida optou por
traduzir adam, na maioria dos casos, Adão, enquanto que a Atualizada
optou por homem. O versículo 21 na Corrigida, por exemplo, ficou:
"Então, o Senhor Deus fez cair um sono pesado sobre Adão". Na
Atualizada ficou: "Então, o Senhor Deus fez cair pesado sono sobre o
homem". Esta diferença se dá pelo fato de não haver letras maiúsculas
no hebraico para distinguir uma forma da outra. Mas há um outro fator
fundamental. Para o leitor antigo, a questão da historicidade do
personagem bíblico era irrelevante. Tanto judeus como cristãos
consideram Gênesis parte do Pentateuco (ou Torah), que é a instrução
de Deus para seu povo. Como instrução, usa bastante linguagem da
sabedoria e muitas formas poéticas cujo tema principal é a vida humana
e seu relacionamento com Deus. Quando lemos outras partes da Bíblia,
não perguntamos sobre a veracidade dos fatos. Assim também deveríamos
fazer com relação à historicidade de Adão. Quando lemos a parábola do
Bom Samaritano, por exemplo, não ficamos nos perguntando se aquele
personagem de fato existiu, mas extraímos o ensinamento da passagem.
Entendo que qualquer discussão que se enverede por estabelecer a
historicidade de Adão ou da criação afasta de nós o foco principal da
instrução dada no texto. Não é dizer que não são fatos históricos, mas
é dizer que estamos traindo o texto ao nos atermos em estabelecer as
verdades históricas, como se a Bíblia só fosse aceita como Palavra de
Deus se todos os fatos ali registrados tivessem que ser comprovados
historicamente. Se a ciência quer provar o contrário, em nada fere o
ensino bíblico.
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Ultimato - É possível harmonizar a história bíblica da criação com a
teoria da evolução?
Douglas - Há muitas tentativas de harmonizar a história bíblica da
criação com as ciências biológicas e geológicas. Apesar de a teoria da
evolução ser muito associada a estas ciências, evidentemente não são
equivalentes. Muitos dos esforços de conciliação foram descritos no
livro de Bernard Ramm: The Christian View of Science and Scripture
(Eerdmans, 1954). É uma pena que este livro nunca tenha sido traduzido
para o português, embora uma parte dele já tenha sido publicado pela
Ediciones Certeza, em espanhol. Ramm defende o que ele chama de
criacionismo progressivo, em que ele postula que os dias de Gênesis
devem ser interpretados como eras de longa duração. Outros evangélicos
como Charles Hummell (The Galileo Affair) sugerem uma interpretação
literária do texto bíblico. Donald Daae (Bridging the Gap) faz uma
interpretação mais literal. Embora nenhuma tentativa de harmonização
seja completamente satisfatória, parece-me que há esperanças de se
alcançar bons resultados no futuro.
Lane - Se harmonização significa acomodar o relato bíblico à ciência,
eu diria que é possível harmonizar, porém, não é necessário. Por
exemplo: a Bíblia diz que a luz foi criada no primeiro dia (Gn 1.3),
mas apenas no quarto dia é que foi criado o sistema solar, incluindo o
sol e a lua (Gn 1.14-19). A ciência diz que o sol é a fonte da luz.
Quem está certo? Criacionistas dirão: a Bíblia está certa.
Naturalistas dirão: a ciência está certa. Uma interpretação cristã
tenta acomodar as duas visões, defendendo que o sol foi criado no
primeiro dia, mas o céu estava nublado. Apenas no quarto dia, ao se
dissiparem as nuvens, é que o sol foi visto. Ora, isso é um absurdo.
Para entendermos esse conflito precisamos lembrar que Gênesis não é um
tratado científico moderno. Além de possuir uma visão do cosmos
diferente do que a ciência conhece hoje, está, acima de tudo, falando
de Deus, o criador. Neste sentido, é preciso lembrar o que Apocalipse
afirma sobre o sol: "A cidade não precisa nem do sol, nem da lua, para
lhe darem claridade, pois a glória de Deus a iluminou, e o Cordeiro é
a sua lâmpada" (Ap 21.23; cf. 22.5). Gênesis está fazendo afirmação
semelhante. Deus é a fonte de luz e não o sol. Isto faz mais sentido
ainda no contexto religioso da antigüidade, em que se cria na
divindade do sol. Gênesis está dizendo que o sol não é um deus, pelo
contrário, é criatura de Deus. Mas um bom exemplo no pensamento
cristão reformado sobre como resolver este conflito é o comentário de
Calvino do texto de Gênesis 1.16. Este versículo diz que Deus fez os
dois "grandes luzeiros". Como conciliar isso com a constatação dos
astrônomos de sua época de que Saturno era bem maior do que a lua?
Calvino responde: "Moisés escreveu num estilo popular coisas que todas
as pessoas comuns, mesmo sem instrução, possuídas de bom senso, são
capazes de entender, mas os astrônomos investigam com grande esforço
aquilo que a sagacidade da mente humana pode compreender. Entretanto,
este estudo não deve ser rejeitado, nem deve esta ciência ser
condenada, pois algumas pessoas têm a audácia de rejeitar qualquer
coisa que lhe é desconhecida. Mas a astronomia não é apenas agradável,
mas também bastante útil para ser conhecida: não se pode negar que
esta arte revela a admirável sabedoria de Deus." (Calvins Commentary:
Genesis, vol. I, p. 86.)
Ultimato - Como nome próprio, Adão é mencionado em Gênesis (3.17 e 21,
4.25, 5.1-5), na genealogia de Jesus (Lc 3.23-38), nas Epístolas de
Paulo aos Romanos (5.14), aos Coríntios (1 Co 15.22 e 45) e a Timóteo
(2 Tm 2.13 e 14), na Epístola de Judas (14) e em outros livros da
Bíblia (1 Cr 1.1, Jó 31.33 e Os 6.7). Esse Adão foi o primeiro ser
humano?
Douglas - Há especulações entre evangélicos de uns cem anos atrás
sobre a possibilidade de uma raça pré-adâmica. Po sua vez, os
arqueólogos evolucionistas têm procurado uma "Lucy", que seria a mãe
da humanidade. O Novo Testamento afirma claramente que Adão é o cabeça
da humanidade, como Cristo é o cabeça da igreja. Uma boa discussão
sobre este ponto é apresentada por Derek Kidner em seu comentário
sobre Gênesis (Editoras Mundo Cristão e Vida Nova).
Lane - A Bíblia o diz que sim. Mas como Adão (palavra adam) significa
"homem, ser humano" e, como tal, ocorre em Gênesis 1.26-27 e em outros
versículos do capítulo 2, há quem diga que esse adam é nome simbólico
para a humanidade. De fato, em Gn 1.27 inclui tanto o homem como a
mulher: "à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou" (RC). Em
alguns casos, inclusive, as versões bíblicas parecem não concordar
quando se deve traduzir Adão e quando se deve traduzir homem para o
termo adam. Uma comparação entre as versões Corrigida e Atualizada em
Gênesis 2.19-23 mostra esta dificuldade. A Corrigida optou por
traduzir adam, na maioria dos casos, Adão, enquanto que a Atualizada
optou por homem. O versículo 21 na Corrigida, por exemplo, ficou:
"Então, o Senhor Deus fez cair um sono pesado sobre Adão". Na
Atualizada ficou: "Então, o Senhor Deus fez cair pesado sono sobre o
homem". Esta diferença se dá pelo fato de não haver letras maiúsculas
no hebraico para distinguir uma forma da outra. Mas há um outro fator
fundamental. Para o leitor antigo, a questão da historicidade do
personagem bíblico era irrelevante. Tanto judeus como cristãos
consideram Gênesis parte do Pentateuco (ou Torah), que é a instrução
de Deus para seu povo. Como instrução, usa bastante linguagem da
sabedoria e muitas formas poéticas cujo tema principal é a vida humana
e seu relacionamento com Deus. Quando lemos outras partes da Bíblia,
não perguntamos sobre a veracidade dos fatos. Assim também deveríamos
fazer com relação à historicidade de Adão. Quando lemos a parábola do
Bom Samaritano, por exemplo, não ficamos nos perguntando se aquele
personagem de fato existiu, mas extraímos o ensinamento da passagem.
Entendo que qualquer discussão que se enverede por estabelecer a
historicidade de Adão ou da criação afasta de nós o foco principal da
instrução dada no texto. Não é dizer que não são fatos históricos, mas
é dizer que estamos traindo o texto ao nos atermos em estabelecer as
verdades históricas, como se a Bíblia só fosse aceita como Palavra de
Deus se todos os fatos ali registrados tivessem que ser comprovados
historicamente. Se a ciência quer provar o contrário, em nada fere o
ensino bíblico.
segue...