sexta-feira, 26 de julho de 2013

ANGRA: INVESTIR NO RISCO


Ainda povoa minha lembrança as imagens fortes de corpos sendo encontradas em meio a lama, em alguns bairros de Angra, casas inundadas e famílias inteiras necessitando de abrigos improvisados - por consequência de chuvas importantes que se repetem de tempo em tempo no município, um fenômeno meteorológico. Nesse sentido, não há como reclamar da ausência de uma plano de contingência mais eficaz, nem como não falar que a falta de investimentos públicos na prevenção desse tipo de ocorrência ajuda a agravar as coisas. As verbas prometidas pelos governos Federal e do Estado não chegaram à contento, com mixaria não se faz o que todos sabem ser necessário. Com isso, concorremos seriamente a continuar chorando a perda de nossa gente.

Por outro lado, não sendo injusto, não há como deixar de reconhecer o esforço concentrado que a Prefeitura da cidade fez na gestão passada, sob as determinações do ex-prefeito Tuca Jordão, que foi audaz ao reescrever o orçamento municipal e investir pesado em obras de engenharia de contenção, programa de assistência social à moradia, e construção de 800 apartamentos para as vítimas da tragédia - em parceria com a União. Destaco ainda o fato de o ex-prefeito ter, além do que já falei, dado maior capacidade operacional com infraestrutura e tecnologia, e autonomia jurídica e administrativa à Defesa Civil do Município, bem como ter estabelecido parcerias institucionais das mais significativas como a que fez com a Coppe/UFRJ, por exemplo, para que providenciasse um diagnóstico técnico e científico sobre as condições geológicas de boa parte das áreas ocupadas em Angra, chamado por mapeamento de áreas de risco.

A atual prefeita, Conceição Rabha, mesmo sendo do partido que governa o país, sentiu o valor da desassistência governamental sobre a cidade - no que se refere a este assunto. Ela pediu R$ 80 milhões e só recebeu R$ 6 milhões para obras de prevenção, reconstrução e correção de danos urbanos, segundo declarou o responsável pela Defesa Civil, em entrevista. Ainda na campanha eleitoral, ela dialogou com as comunidades dos morros da cidade, reconheceu a necessidade de tais investimentos e levou-as à sua proposta eleitoral. Já eleita, logo no início de seu mandato, viu a cidade ser inundada pelas águas que transbordavam dos riosmas não conheceu a força das tragédias com deslizamentos das versões anteriores, o que certifica a assertiva do ex-prefeito nas medidas tomadas, mas entendeu que precisa avançar. E esse tem sido um dos desafios postos à sua agenda de governança, mas, assim como no passado, o Estado negligencia com sua parte nessa história.


Conforme pode ser lido na página oficial da Coppe/UFRJ,  encomendado pela Secretaria de Estado do Ambiente (SEA), por meio do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), após os deslizamentos de terra que mataram mais de 50 pessoas na região de Angra dos Reis, no final de 2010, concluiu-se que cerca de oito mil pessoas que vivem em Angra devem sair dos locais onde moram. Isso em 2010, já estamos em 2013. Segundo estudos realizados pelo Instituto Geotécnico de Reabilitação do Sistema Encosta-Planície – Reageo, sediado na Coppe/UFRJ, por mais investimentos que se façam, essa população continuará em risco. São áreas de alta e muito alta suscetibilidade aos desastres naturais, segundo critérios estabelecidos pelos pesquisadores do Reageo. Já nas áreas de média suscetibilidade, o estudo apontou intervenções que devem ser feitas envolvendo principalmente drenagem, superficial e profunda. 

Aqui, fecho perguntando: Pois bem, e o que o Governo do Estado fez de prático para Angra, desde que tomou conhecimento desse imperioso Estudo? 
O resto é bazar de secos e molhados.
Passa a régua.
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13h16min.     -     adelsonpimenta@ig.com.br

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