segunda-feira, 12 de agosto de 2013

BRAVATAS DA BRASFELL'S: ALTO LÁ!



Há uma tremenda diferença entre o que é público e o que é privado, óbvio. Mas, percebo haver grande possibilidade de convergirmos pela compreensão de que há mais discurso que prática governamental, e que há mais bravatas e dependência dissimulada dos cofres públicos que de sua própria produção pelos grandes empresários. Devia ser uma exceção, mas, tem sido regra. E vou explicar melhor isso nas linhas abaixo. O Brasil dos brasileiros - aos montes, já se apercebeu da sacanagem, e vai às ruas protestar. O movimento, por mais pessoas que reúna, como faz questão de atestarem os críticos, é minoria, mas, cá entre nós, a sua mensagem e reivindicação e queixa é a estratificação genuína do maioria.

Em Angra dos Reis/RJ, que é para onde escrevo este artigo, há uma quizumba armada sobre os verdadeiros interesses dos trabalhadores metalúrgicos da indústria naval, negociados pelos sindicalistas. A fissura dentro da instituição representativa ganhou contornos surpreendentes, e daí para as bravatas muito oportunas da direção da empresa foi um pulo. Estão todos equivocados se pensam que a família metalúrgica se satisfaz em ver seus interesses  na mesa de apostas políticas de uns e outros, ou na bolsa especulativa de alguns. Eu tenho um entendimento acerca do caso.

Aos fatos:
Há alguns dias, segundo li, a prefeita da cidade, a petista Conceição Rabha, teria comunicado a intenção de rever a isenção fiscal do estaleiro Brasfell's. Não é possível saber, porque não há esse documento no Portal da Transparência, e isso é uma falha que precisa ser corrigida, qual é o valor acumulado que corresponde essa isenção fiscal. Aliás, não só sobre esta, mas sobre todas. Esse assunto é também de interesse público. E mais, é fundamental sabermos sobre quais bases foram feitas o acordo, já que envolveu a União, o Estado e o Município. Não obstante, o saneamento básico do bairro onde está o estaleiro era tratado pela empresa, e não é mais. Uma parte significativa de metalúrgicos é oriunda de outras cidades, e há ônibus de fretamento aos bocados que ficam estacionados na porta da empresa, logo, gerando impactos. Uma quantidade importante de funcionários goza dos benefícios de plano de saúde privada, e uma parte é atendida na rede pública já que a empresa não tem essa estrutura. A escolinha de formação profissional funciona à míngua com suas ofertas de oportunidades. Há restrições impostas à idade, e anotações proibitivas sobre as fichas de vários trabalhadores dispensados. Reitero a pergunta: Quais são as bases desse acordo que gerou a isenção fiscal? Não seria mesmo a hora de uma revisão?


Outro ponto crucial está no fato de que em sua carteira de negócios há poucas construções de navios. É uma opção, mas é preciso saber que tipo de serviço incidia sobre o acordo. Navios são projetos que levam mais tempo para serem executados e geram empregos mais duradouros. A Petrobras é o maior cliente da empresa, sem dúvidas, portanto, suas compras também observam o desenvolvimento regional, tanto que adicionou a cláusula de exigência pelo percentual de conteúdo local sobre os projetos encomendados, e depois estimulou a criação da indústria de navipeças. O que quero dizer é que ao ameaçar retirar a empresa ou parte dos seus serviços do estaleiro de Angra, pelo fato de não conseguir dialogar seus interesses comerciais com a valorização da mão de obra profissional que emprega, mais joga pra galera que fala sério. Isso, creio eu, não depende só da empresa.



Suspeito que o Governo do Estado do Rio de Janeiro é quem deva ser chamado para pôr essa bola no lugar. Se a diretoria da empresa insinua que transferirá seus investimentos para outra cidade, presumo que, em sendo à vera, seja para dentro do estado do Rio, logo, é a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, com ajuda do Fórum de Desenvolvimento Econômico Estadual que precisa dizer o que é que anda, se é que anda, conversando com a direção da Brasfells no escurinho do cinema. Se a intenção for levada a sério - e esta for a de migrar sua estrutura para outro estado, aí é briga com a União, por meio de alguns Ministérios. De uma forma ou de outra, a empresa sucursal de Singapura no Brasil só se mexerá se os demais elos dessa prosa permitirem. Outra lição que aprendemos é a de que a Petrobras trabalha com prazos, é uma estatal, há investidores, e há recursos públicos na jogada; portanto, não, não é bem assim como quer nos fazer crer os que jogam com essa ameaça. 

A empresa continua faturando - e cada vez mais, a conjuntura é outra. Os empresários desse setor e dessa empresa especificamente podem até vir a fazer algo sobre o que se comenta, mas isso, penso eu, se dará com um planejamento maior, com compensações econômicas do Estado ao Município por essa permissão, entre outras coisas, mas não pelos motivos alegados ou pelo calor dessa discussão simplesmente com os sindicalistas divididos entre si mesmos. Há abundância de crédito para o setor, há demanda, e os trabalhadores insistem acertadamente por sua valorização, e a municipalidade não ganha praticamente nada nessa história. Mais que as desavenças dos sindicalistas, está em jogo o negócio da empresa - que vai muito bem, obrigado; a relação com o metalúrgico, que anda estremecida; e o interesse público, que é o que menos tem sido discutido até aqui, e é o que mais interessa à sociedade, e, aparentemente, o que menos importa aos empresários. Alto lá.

É a minha leitura.
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00h45min.     -     adelsonpimenta@ig.com.br

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