quarta-feira, 30 de outubro de 2013

CASO DE FAMÍLIA

A Prefeita de Angra, a petista Conceição Rabha, é tia do Presidente da Câmara municipal, o peemedebista Jorge Eduardo. Ele foi um dos principais nomes nas prévias eleitorais de 2012 para compor como candidato a vice-prefeito na chapa encabeçada pelo líder de seu partido, o Fernando Jordão. Ele creu - e a fila andou. Por fim, foi preterido, fez beicinho e - à quem se dispôs a ouvir, reclamou. Jorge mostrou força eleitoral, se elegeu como o candidato mais bem votado nessa eleição municipal, mas, inegavelmente, ficou uma fissura em seu partido. 

Ele se aproximou da direção local da legenda, nomeando o Sr. Marcos Silva, presidente do partido, para um cargo político no Legislativo. Nos últimos dias, exonerou-o. Na foto pública mais atualizada aparece ao lado de Fernando Jordão, com quem esteve numa entrevista recente na rádio Costazul FM, uma reaproximação. No discurso proferido na tribuna da Câmara, poucas horas depois, declarou-se fora da base governista - e se juntou a oposição. 

Mas, é preciso voltar alguns capítulos para tentar compreender essa trama. Jorge foi eleito e logo gerou desconfiança de alinhamento ao PT. Poucos dias depois, a certeza disso. Fernando Jordão ensaiou algumas reuniões para tentar cumprir um acordo que teria selado, na tentativa de fazer do comunista José Antonio o presidente da Câmara. No outro lado do balcão, Jorge chamava a prefeita por tia e fez as articulações combinadas com ela, logo, sagrou-se vencedor na escolha do comando da Casa. Teve a digital da prefeita, dito por ele mesmo no processo de negociações entre seus pares. 

Não está sequer completo um ano de gestão, ele rompe - e cria uma fissura com o Governo. Imagino que a prefeita esteja refazendo sua engenharia política para prevenir-se contra os possíveis efeitos colaterais dessa decisão, ao mesmo tempo em que deve estar sendo sedada por conselhos políticos de seu partido, para não sofrer com tanta frustração. Institucionalmente, está na hora de revisar e criar protocolos; politicamente, resta ter habilidade. O problema será a ceia de natal.
Mas, brincadeiras à parte, importante é tentar descobrir as verdadeiras razões pelas quais Jorge Eduardo tomou essa decisão. Instigante é para o público observar como a prefeita Conceição e seu staff reagirão doravante, já que não é aconselhável se passar recibo nessa situação, nem se equivocar na condução dos procedimentos, ao mesmo tempo em que precisa deixar claro a insatisfação política com a decisão. Jorge já disse algumas vezes que não pretende mais a reeleição à vereança - e alimenta as especulações sobre suas pretensões à eleição majoritária. Ele quer ser prefeito. No PMDB, seu partido, Fernando Jordão é o líder da legenda e também tem essa pretensão, mas, por hora - e em recurso, está inelegível. há suspeitas no meio político de que um acordo entre as parte pode ter sido apalavrado.

O fato é que a Prefeita acaba de mexer no tabuleiro, trazendo para a Secretaria de Governo o homem que cuidava do caixa, Robson Marques. É dele a responsabilidade pela condução dos trabalhos de interlocução política e relação institucional, terá de formar uma equipe que saiba lavar nas águas do diálogo e do jeitoso modo de fazer as coisas, o barrento espaço mais vital dessa conjuntura -  o jogo. Há matérias importantes para serem votadas, entre as quais, o Orçamento para 2014. É ofício do Presidente da Câmara a decisão pela pauta da Casa. Uma coisa será o exercício da confabulação e a busca pelo consenso sobre as agendas públicas; outra coisa será saber até que ponto não haverá mistura entre os interesses, dada consanguinidade de ambos. A política em Angra pode ter virado um caso de família.
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20h50min.     -     adelsonpimenta@ig.com.br 

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