segunda-feira, 4 de novembro de 2013

CIDADANIA MAIS CIDADÃ

ARTIGO DO BLOG

A campanha eleitoral de 2012 trouxe temas à luz do marketing, sendo que, em Angra, Fernando Jordão falou em "alegria de volta", e a eleita, Conceição Rabha, falou em "mudanças". Óbvio que o conceito foi tirado de resultados obtidos em pesquisas qualitativas encomendadas para consumo interno - por ambos os lados da disputa. Mas, dado o monitoramento que tenho feito das redes sociais, arrisco em dizer que há algo a mais nessa percepção,  que progrediu para este ponto atual, qual seja: - A Cidadania. O que se extraiu de substrato para definição de estratégia de campanha deve ser compreendido como algo mais significativo que isso. 

Inegavelmente, Angra tem uma população pujante e economicamente ativa em sua maioria. O Caged não fala em pleno emprego, mas, convenhamos, a informalidade e os meios de comercio e serviços ainda sem a devida regularização é relativamente grande. Em termos práticos, temos uma sociedade que se vira nos trinta. Mas, o fato de haver mais gente na escola, mais gente produzindo, mais gente consumindo, mais gente lendo, mais gente interessada nas coisas - ufa, que bom - acarreta também novas demandas de serviços públicos e de serviços privados, de atenção, de exercício do diálogo, além de uma nova concepção cidadã. Sem compreender isto, a política termina sendo feita de maneira vertical e não transversal, ou seja, colherá resultados atravessados, nunca inteiros.

Não diria, (seria um risco), que há uma espécie de dissensão na representatividade eletiva, porque entendo ainda haver identificação popular com a escolha política, embora mais esgarçada, menos intensa e, em certos casos institucionais ou uninominais, em frangalhos. O tecido social se povoou enfim de um tipo de cidadão mais cidadão, porquanto, mais crítico e consciente. Compreende-se que é a política o teatro pelo qual as transformações coletivas acontecem; porém, dada a evolução do conhecimento, do debate, da participação, o cidadão busca menos dependência possível da relação com o político e se torna ainda mais ativo nas cobranças por resultados e soluções. A pessoa é parte do conjunto, sempre foi, mas agora se coloca como tal, não espera. É dela que emana o poder? Então... 

Novos públicos constituem uma cidadania urbana que se desenvolve sob quatro condições: quando a moradia urbana é base da mobilização, quando as reivindicações de direitos referentes à experiência urbana compõem sua agenda, quando a cidade é a principal comunidade política de referência para esses desenvolvimentos e quando os moradores legitimam essa agenda de direitos e práticas participativas com base em suas contribuições para a construção da cidade. No caso de Angra, a classe trabalhadora, eleitora, desenvolveu um novo sentido de cidadania a partir de suas inserções para a construção da cidade, ao erigir casas e bairros; para o seu governo, com o pagamento de impostos; e para a sua economia, por meio do consumo.

Isto posto, visto que este monólogo será intenso - se prosseguir e tende a crescer e se avolumar, e que, em se tornando um debate, seguramente conhecerá páginas e mais páginas de outras participações - muito mais interessantes que a provocação que faço acerca do assunto, deixo para a reflexão de todos que revejam a forma de estudar o pensamento coletivo. Não há uma linha só, não há maioria ou minoria, não há grupos por classificação econômica, isso tudo está superado e as pesquisas estão à sombra dessas constatações. Hoje o termômetro mais confiável é analisar a opinião pública por razões temáticas, por agendas públicas agregadas. Ora, a Prefeita Conceição Rabha, já presidiu um Conselho de Orçamento Participativo, e hoje - estando no comando da cidade, não se tem notícia de que patrocine interatividade social nem relacionamento digital para colher opiniões na confecção do orçamento municipal. Ela presta contas, um ato político;mas ela não pede a opinião para fazer a definição dos investimentos, que seria um ato institucional voltado diretamente para o cidadão. É preciso corrigir essa imperfeição no relacionamento. 

A Câmara de Angra já se dedicou a conhecer a opinião do cidadão sobre a imagem pública do Legislativo e exercício político de determinada legislatura, mas não tenho conhecimento de ter feito sondagens, oitivas públicas com caráter científico para saber mais sobre as pretensões do cidadão quanto a essa representatividade política, para mensurar o impacto das proposituras apresentadas na Casa, para tomar ciência da pluralidade municipal acerca de decisões deliberadas pelo próprio Poder Legislativo e também, principalmente, do Poder Executivo afim de corrigir rumos, qualificar o debate político, auxiliar na melhoria da governança. Da mesma forma, sob a busca de outras respostas, os partidos políticos não criam identidade popular nos municípios onde atuam - e em Angra não é diferente. Não há exercício partidário no processo social de discussão sobre a coisa pública, limitando-se, em sua maioria, a ser veículo de aspirações eletivas deste ou daquele ator de quem se imagina ou discursa ter possibilidades de angariar votos. Esse modelo, assim como os demais, está esgotado, penso eu. O debate agora é outro. A cidadania é mais cidadã, e este é um desafio para todos, uma equação político-social sem aferições ou mensuras ainda conhecidas e certificadas.

E você, o que pensa do assunto?
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11h55min.     -     adelsonpimenta@ig.com.br

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