terça-feira, 27 de janeiro de 2015

DEU SEDE

Desdobramentos da reunião da semana passada na sede da Cedae - no Rio, a Prefeitura de Angra informa e convida para uma entrevista coletiva, que será realizada amanhã (28/01), às 15 horas, na Defesa Civil Municipal. Gente do Saae e da Cedae vão detalhar as ações de emergência e esclarecer desafios sobre a escassez de água na cidade. É o que diz o release. Mas, tenho algo a dizer a respeito do tema. Aliás, venho participando dessa discussão, pelo blog, há um razoável tempo.


A dita "escassez" de água, que é uma análise apressada para justificar o desabastecimento momentâneo, serve - ou deveria servir para controlar ânimos mais exaltados, mas pode conspirar contra as oportunidades que a situação de fato oferece. Em Angra não falta água, na região Sudeste sim. O que há no município é prejuízo sobre o consumo, porque há desperdício, vazamentos não detectados, não reuso, falta de inteligência tecnológica na captação, reservação e distribuição, logo, uma somatória que deixa as torneiras secas. Todos perdem com isso.

Dada a velocidade por uma resposta à sociedade, podemos estar desperdiçando não só a água abundante que há, mas também as chances de negócios que o caso proporciona à cidade. A empresa do Estado, a Nova Cedae, não investe há tempo, está sem contrato, mas não abandona a gestão, não entrega à Prefeitura, pelo contrário, cria obstáculos. Há várias razões para isso. E todas elas são econômicas. Até mesmo a mão estendida nesse momento, não é feita pela boa imagem da empresa, mas por interesses que o negócio proporciona. Não tem santo nem ingênuo nessa história.

Angra, por sua característica fisiográfica, tem abastecimento hídrico autônomo, independente dos grandes sistemas que abastecem cidades importantes da região. E, diferente do que muitos pensam, vai muito bem, obrigado. Isso é um ativo municipal, deve ser tratado como um grande achado, especialmente em tempo de escassez regional. A natureza é tão generosa que se houver investimento, a cidade deixará mais de 60 pontos de captação existentes hoje, para se dedicar a menos de 5. E resolverá todo o problema.

Segundo a historiografia acadêmica disponível e balizamentos técnicos de campo realizados, mesmo sendo uma das cidades que mais cresceu demográfica e urbanisticamente nas três últimas décadas no Brasil, há capacidade hídrica para suprir a demanda - e sobra. A Pesquisa sobre Aglomerados Subnormais do censo 2010 IBGE, apontava que em 2009, 34,2% das residências do município ficavam em aglomerados subnormais, ou seja, 18.341 dos 53.575 domicílios da cidade. É um termo simpático para chamar de "favelas", que o IBGE disse serem 37 aglomerados subnormais, sendo que a maioria fica em áreas de encostas íngremes, ou seja, de iminentes riscos. O Estado nada fez de prático para equacionar essa questão. 

Investir em tratamento de esgoto, em política habitacional - com ênfase em engenharia pública, atualizar a legislação territorial , planejar e fazer controle sobre a ocupação urbana, garantir monitoramento do ciclo hidrológico, entre outras ações, é um passo fundamental para o caso. As nascentes, as barragens, enfim, tudo deve compor um Plano Municipal de Recursos Hídricos. Angra tem esse ativo, que hoje vale mais do que em outro momento. É hora de ter em mãos os dados, estabelecer objetivos claros aos interesses da municipalidade.

Segundo matéria do jornal Brasil Econômico, que compartilhei link em meu perfil no Facebook, um dos reflexos dessa escassez na região sudeste, por exemplo, é o alarmante dado da Fiesp - de que a crise hídrica pode atingir 60 mil indústrias no estado de São Paulo. Péssima notícia pr lá, mas uma porta de oportunidades para cá. É preciso resolver a questão fundiária, o estoque de terras para desenvolvimento de parques industriais e fazer as coisas andarem pra frente. É preciso gestão e visão.

Atender a demanda domiciliar, suprir a necessidade da indústria, prospectar novos investimentos, enfim, há um vasto campo de oportunidades abertos com a abundância de água em Angra e escassez na região. Paliativos para a urgência do momento não pode se sobrepor a visão de gestão que se necessita para a agenda. A Prefeita tem em mãos um limão azedo, mas que, sabendo fazer o manejo, pode servir-se de uma saborosa limonada doce e servir ao grande público a água potável que falta em outros lugares.

Aqui resumo o caso de forma simplista, mas o debate mais aprofundado é imprescindível.
Deu até sede.
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11h51min.     -     adelsonpimenta@ig.com.br

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