sábado, 6 de junho de 2015

ANGRA E O CONCEITO DE GESTÃO

Artigo originalmente escrito para publicação em minha coluna no prestigiado jornal @ Voz da Costa Verde

Por políticas públicas equivocadas decididas pelos governantes nas duas últimas décadas, principalmente, o município de Angra retroagiu. Hoje, qualquer prefeito está sempre dois passos atrás do timming correto de se fazer certas coisas pelo desenvolvimento racional e sustentável da cidade. E não há dinheiro público que dê conta. Torrou-se dinheiro e oportunidades.

A opção por praças, algumas com jardins, outras não; por pavimentação, sem a mensura adequada da coleta de esgoto, sem investimentos prévios em infraestrutura; enfim, deve dialogar com outras medidas prévias, e não ser tratado como objeto central de um planejamento. Quando se decide onde e como pôr o dinheiro público, conceitua-se a gestão. As transições de um para o outro são sempre em marcas fulanizadas, propagandística, nunca de Governo, de Estado.

Houve inversão de valores conceituais em termos de gerenciamento da cidade angrense nos últimos anos. É inegável. O populismo e a oferta de iniciativas que saltassem aos olhos e não ao ordenamento e controle urbano, rendeu votos - e um passivo impagável à municipalidade. Esse é o debate que deve ocorrer, em meu entendimento. Custa caro à cidade hoje - e vai continuar custando por muito tempo.

Houve a abertura da frente da cidade, mas não se resolveu a questão da descarga dos pescados, por exemplo. A lengalenga do Entreposto Pesqueiro virou anedota, e os caminhões continuam lavando as ruas da cidade com água que escorre do peixe. E a pesca, por sua vez, continua sendo imprescindível à economia local. A fedentina dessa água não reflete a importância do setor. Mas, no mesmo local, foi construído um banheiro ao custo de R$ 1 milhão.

Um píer, que seria um traço sobre as muitas linhas de um grande projeto, começou a ser construído por uma empresa - às custas do Governo Federal, e hoje está lá no espaço da Propescar a prova acabada do desperdício de dinheiro público. Uma canoa encostada com um vento um pouco mais forte pode derrubar o píer. Nada de entreposto.

Mas isso não é tudo. É ainda pior. Criou-se o Saae para embaralhar e não para resolver a gestão do saneamento básico, e houve até o disparate de se falar em Marina Pública, como se o Rio do Choro não jogasse fezes e urina in natura no mar. Houve até entrevista coletiva da Prefeitura com a Cia. Vale para anunciar medidas de intervenção urbana que prometia mudar a cara dos "Morros de Angra", quando até em colocação de teleféricos se falou. Depois, para espichar essa prosa, interligariam os teleféricos ao cartão único de ônibus menores que circulariam pelo Centro e se encontrariam com outros articulados na rodovia. Restou carrinhos de golfe pelas ruas da cidade. Tudo balela.

Em tempo: O espaço de eventos do Comercial seria desapropriado, onde seria construído um Aquário de três andares. Isso tudo foi firula, retórica e panfleto. Dizer que mergulharia na Praia do Anil virou chacota. E é mesmo. As obras de engenharia de contenção de encostas continuam inconclusas - e urgentemente necessárias até hoje, com famílias morando em áreas de risco. Um déficit habitacional que impressiona. Um abismo social que se chegou a achar que seria resolvido com shows na Praça do Porto. É crível?

Numa cidade em que ex-prefeitos e políticos (não são todos) produzem mais discursos que qualquer coisa, não é de se estranhar o desalinhamento entre o que de fato devia ser feito com o que se praticou até aqui. Hoje, com base no que as gestões públicas modernas fazem em lugares avançados, ou seja, atraindo o capital privado para investimentos nas cidades, seja sobre obras públicas ou em negócios particulares, o conceito de administração precisa ser estudado e proposto no debate político local. Há vários instrumentos de gestão legais para isso. É preciso modernizar os mecanismos da gestão pública.

Finalmente pergunto: Mas como fazer isso com abastecimento de água insuficiente, com baixo estoque de terras públicas, com tamanha insegurança fundiária, com serviço imprestável de telefonia, internet e energia elétrica, com a mobilidade urbana comprometida, entre tantos outros desafios herdados? Não basta ser inventivo. O gestor público de Angra, e a bola da vez é a Prefeita Conceição Rabha, precisa corrigir equívocos passados, prospectar investidores, propor um conjunto de nova legislação, integrar logísticas, corrigir déficits sociais, entre outras agendas. 

O conceito de gestão deve anteceder a escolha do nome do gestor. Não é tarefa fácil.
É o meu parco entendimento.
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 adelsonpimenta@ig.com.br

Um comentário:

Paranhos Filho disse...

nada mais pulha, mais canalha do que como um tipico esquerda empurrar a lambança para a herança maldita. é mais confortável e ainda tenta entubar isso num blá blá blá pseudo-rebuscado achando que alguém compra. alias, a prefeita compra. nojo disso tudo.